26 março 2009

De onde ele nunca deveria ter saído

Meu amigo liga, quer conselhos sobre uma nova paquera. Conta que teve um lance sensacional com ela. Dois dias de carinho, amor e todos os mais picantes detalhes, que não me permito tornar público.
Filho da garoa e neto da gandaia, ele parecia disposto a largar a mal falada família para se entregar ao novo amor. Fez tudo como manda o figurino. Ligou e escreveu à nova amada. E avisou aos amigos que estava em viés de alta, tal como a CELIC.
As ligações, para sua nobre surpresa, não foram sequer atendidas. Azar, pensou ele. Tentou os recursos digitais, email, Orkut e mais um monte de coisas que, com minha ignorância nesse sentido, não sei explicar.
Não houve, mais uma vez, nenhuma evolução no contato direto.
Já desolado, ela teve a impressão de ter a visto na rua. Encheu o peito de coragem e pumba: escreveu de novo, via mensagem de celular. Era o dia de sorte do meu bom amigo. Cinco minutos depois, mensagem respondida.
Ele fez a tréplica, tal como um político nos debates eleitorais. E era mesmo a lua dele. Mais rápida ainda a resposta voltou. Era a hora da cartada final.
A mensagem dele era simples, queria ligar para ela e parar de mandar mensagem, que ele diz detestar fazer.
Foi seu erro.
Ficou sem resposta. Tentou ligar, não foi atendido. Desolado.
Ligou para sua mãe e avó. Horas depois estava de novo, sob a saia da garoa, de mão dada com a gandaia, de onde, agora ele parece saber, nunca deveria ter saído.

11 março 2009

O trem que chega é o mesmo trem da partida

O trem que chega é o mesmo trem da partida

A frase não é minha, alias, acho que nunca fiz uma sentença minha mesmo. Tudo que escrevo ou falo são palavras e pensamentos picados que juntei ao longo e transformei no meu repertório.
Mas bem que poderia ter sido criada por mim. Poucas vezes um grupo de palavras juntas expressou de forma tão clara o meu sentimento durante um dia.
Ele começou cedo, quando a luz azul do meu celular avisou que uma mensagem de texto me aguardava para ser lida. Podia ser tanta gente, tanta coisa, que esperei um pouco para levantar da cama e ler.
Domingo, as oito e pouco da manhã, não é comum receber mensagem, ainda mais sendo eu um rapaz solteiro. A noite curta e o pouco tempo de sono me impediram de ver na hora o que aquela luz azul queria me dizer.
A frase era curta, mas a notícia era ótima. Dizia assim: Sua sobrinha nacerá hoje (É, a emoção fez meu irmão esquecer a letra S que vem antes de C).
Os mais de 500 quilômetros que me separavam do acontecimento me deram um misto de emoções. A felicidade pela chegada da Malu, que já veio com apelido. A apreensão que envolve o parto e, por incrível que pareça, a saudade de alguém que ainda nem tinha nascido.
Dali um tempo a ansiedade me fez ligar para saber notícias do parto. Dessa vez a conversa foi mais longa e a notícia péssima.
Não, nada em relação à Maria Luiza que ainda esperava a chegada do médico para mostrar a carinha linda que vi dias depois.
Mas justamente na outra ponta da família, uma estrelinha nos deixava para morar ao lado do Papai do Céu para sempre.
Mais uma vez a distância me derrubou. Queria estar perto, celebrar com um irmão e chorar com o outro. Ver o sorriso de uma cunhada e sofrer com as lágrimas da outra.
Cheguei a pedir a Deus para que as coisas não acontecessem no mesmo dia. A chegada estava marcada para o dia 11 e a partida, que já sabíamos era inevitável, aconteceria quando Deus mandasse.
Errado. As duas coisas vieram no dia que Papai do Céu entendeu ser o melhor.
O trem que chega foi, de fato, o mesmo trem da partida.
Ou como me disse aquele metido a ateu: Foi-se uma estrela e chegou uma outra.